Alguns poucos meses atrás, se eu me levantasse em um jantar comemorativo e fizesse uma piada sobre um dos vazamentos do WikiLeaks, ninguém entenderia coisa alguma e eu faria o papel de bobo! O que mudou? Bem, ainda posso ser um bobo, mas agora todos e até suas vovós sabem o que é o WikiLeaks e acho que, se ouvir o nome de Julian Assange mais uma vez, terei um aneurisma cerebral.
O WikiLeaks faz alguma coisa diferente? A publicação dos telegramas diplomáticos do governo americano em 28 de novembro de 2010 pode ter sido a maior em termos de volume em comparação com as anteriores, mas revelou alguma coisa mais visceral ou intensa que o vídeo de 17 minutos de duração (lançado em abril de 2010) em que doze pessoas, incluindo dois jornalistas da agência Reuters, são metralhadas por um helicóptero AH-64 Apache?
A diferença está quase que totalmente no modo como a grande mídia vem agora tratando o assunto. Houve uma clara mudança na atitude e estratégia das fontes de notícia dominantes, dos representantes do governo e de figuras políticas proeminentes. O WikiLeaks.org foi levado para o primeiro plano no ciclo de notícias globais.
Como todos sabemos, as notícias mais importantes frequentemente são aquelas que recebem menos cobertura; essas histórias são agressivamente censuradas e, algumas vezes, até retroativamente removidas do destaque de notícias da grande mídia. Subitamente, os círculos mais internos da mídia controlada parecem estar fazendo um jogo diferente com o WikiLeaks. Eles apontaram o foco para ele. Isto é o que originalmente levantou minhas suspeitas de que alguma coisa estava errada.
Talvez o mais suspeito de tudo foi quando a revista Time começou a cobrir extensamente o WikiLeaks e nomeou Julian Assange como "Homem do Ano na Escolha do Leitor". Embora a "honra" oficial tenha ido para o criador do Facebook, o queridinho da NSA (Agência Nacional de Segurança) Mark Zuckerberg, o foco demorado sobre Assange e sobre o WikiLeaks pela revista Time e por outras importantes publicações foi um grande sinal de alerta. Tornou-se aparente que o sistema globalista tinha tomado um interesse especial pelo WikiLeaks e queria que ele se tornasse um termo doméstico.
Muitas pessoas acreditam que quando uma história domina o ciclo de notícias internacionais por várias semanas, é porque ela é importante, ou porque é algo que o público quer ouvir. É exatamente o contrário.
Os monopolistas da mídia sabem há muito tempo que são eles quem decidem o que é "importante", e eles têm de decidir aquilo que o público "quer" ler. No espírito dos exemplos estabelecidos pela revista Time e pelo velho magnata da imprensa, William Hearst, a mídia não reflete o interesse e a opinião do público, o objetivo dela é fabricá-los. É essa reversão da casualidade que torna a consolidação da mídia tão perigosa.
Julian Assange e seus parceiros podem ter criado o WikiLeaks.org, porém a mídia dominante é que o tornou famoso.
São Muitas as Questões
Assange trabalha para algum serviço de Inteligência? As informações que ele divulga são fabricadas? Alguma fundação mantida por George Soros financia o WikiLeaks?Quais jogos estão ocorrendo aqui?
Primeiro de tudo, permitam-me tratar o ângulo de Soros. John Young, do
Cryptome.org, realizou uma investigação sobre as alegações que o WikiLeaks era financiado por alguma das organizações de George Soros e não conseguiu confirmar nenhuma dessas afirmações. Você pode
ler sobre isto aqui, junto com as respostas dos representantes das Fundações Sociedade Aberta, de George Soros, e declarações ao fisco que não mencionam o WikiLeaks. Acreditamos que os lacaios de Soros digam a verdade? Provavelmente não! Conclusão: isto não pode ser confirmado nem negado. (Mas, se o apresentador Glenn Beck está falando sobre o assunto, provavelmente é um beco sem saída.) Continuando...
Julian Assange tem um longo histórico de destemor ao falar abertamente contra a corrupção e goza de uma considerável confiança entre os hackers (invasores de sistemas de informática). Sua capacidade e inteligência estão fora de questão. Entretanto, todos sabemos que existem inúmeras formas de fazer as pessoas contemporizarem sua ética.
Embora eu já tenha modificado minhas posições diversas vezes à medida que novas informações vieram ao meu conhecimento, atualmente não acredito que Julian Assange seja um agente da Inteligência. Entretanto, estou dando a ele o benefício da dúvida, especialmente considerando
seus preocupantes comentários sobre os eventos de 11/9/2001. Perdoem-se se estou saindo da linha aqui, mas acho que o sujeito que inventou a Criptografia Recusável deveria ser inteligente o suficiente para saber que arranha-céus não se autoimplodem magicamente quando os detectores de fumaça disparam. O que me leva à próxima pergunta...
Onde estão as evidências sérias sobre o 11/9? Entre todos os dados liberados até aqui, acho que não houve mais do que um memorando e algumas observações sobre aquele fatídico dia. Na verdade, muito pouco foi revelado que não era já conhecido, ou pelo menos sobre o que havia suspeitas. Este ponto foi levantado por alguns em suporte ao argumento que o conteúdo dos vazamentos é "fabricado", ou controlado de algum modo pelos serviços de Inteligência. Concordo e discordo. Permitam que eu me explique:
É claro que o conteúdo de documentos classificados (secretos) é controlado. O simples fato de serem secretos não quer dizer que sejam verdadeiros. O vazamento dos telegramas diplomáticos nos deu uma visão de parte da propaganda interna do governo dos EUA. Vamos encarar os fatos. Se "recos" (palavra de Kissinger, não minha) como o soldado raso Bradley Manning tinham acesso a essas informações, então não há nada ali sobre o 11/9/2001.
O próprio pessoal do governo precisa ter sua confiança constantemente reforçada sobre a história oficial em cada assunto, para manterem a consistência ao lidarem com a mídia e com o público. Isto explica muito daquilo que estamos vendo.
Além disso, parece que a mídia dominante é muito cuidadosa quando se trata de decidir quais telegramas merecem ser divulgados como notícia. Isto explica por que a propaganda interna, particularmente aquela que promove os pontos de discussão comuns dos globalistas, tende a aparecer de forma tão proeminente na cobertura jornalística da grande mídia. O exemplo mais óbvio seria o grande volume de avaliações estratégicas internas sobre o Irã, que afirma (entre outras coisas) que esse país exerce influência sobre o Iraque, e que inventa novos métodos suicidas para a "Al-Qaeda" usar contra as forças da coalizão.
Por outro lado, também ocorreram algumas revelações, discutidas principalmente na imprensa estrangeira e independente, que não fazem nada pela agenda globalista, e são apenas embaraçosas. Por exemplo, um telegrama vazado cita um executivo da gigante farmacêutica Pfizer na Nigéria, admitindo que a companhia contratou detetives particulares para descobrir as sujeiras políticas de um procurador geral, forçando-o a renunciar ao cargo e desistir de uma ação judicial relacionada com o teste de uma nova medicação que causou mortes e deformidades físicas entre as crianças nigerianas.
Logicamente, aqueles de nós que seguem as fontes de mídia alternativa conhecem essa situação há vários anos. Ela foi notícia internacional pela primeira vez em 2004, quando autoridades do governo nigeriano começaram a destruir e proibir as vacinas contra a poliomielite, porque acreditavam que ela estava causando a infecção pelo HIV/AIDS e tornando a população infértil. Entretanto, esses novos detalhes, vindos direto da boca do culpado, deram maior credibilidade às suspeitas antigas sobre a natureza maliciosa dessas companhias farmacêuticas.
Até aqui, somente 1% do total de 250.000 telegramas diplomáticos foi publicamente liberado por meio do WikiLeaks.org. Entretanto, nem mesmo essa pequena porção foi totalmente analisada pela mídia alternativa. Anteriormente nesta semana, um jornal norueguês chamado Aftenposten afirmou que tinha recebido o volume total, como também o jornal russo Novaya Gazeta, mas nenhum dos dois publicou novos materiais.
A questão é que a vasta maioria dos dados ainda não foi analisada. Há também o misterioso arquivo de 1,4 GBytes intitulado "insurance.aes256", que foi liberado, mas permanece criptografado, aguardando uma possível morte prematura de Assange. (Discutirei isto em maiores detalhes em meu próximo artigo.)
É preciso ainda peneirar muita coisa. Depende dos indivíduos, não das organizações de notícias, oferecer voluntariamente seu tempo, examinar esses telegramas diplomáticos, e publicar suas descobertas sempre que possível. Estou convencido que ainda há muito para ser visto. Com o tempo, talvez venhamos a aprender de verdade algo novo sobre os eventos de 11/9/2001.
A propósito, esta é a mais nova diretiva (chamada "Operação Leakspin") publicada em www.4chan.org aos membros da comunidade dispersa de hackers comumente conhecida como "Anonymous".
Estes são os indivíduos que, após o anúncio da suspensão das fontes de financiamento para o WikiLeaks, retaliaram fazendo ataques DDOS (Negação de Serviço Distribuído) contra os sítios na Internet de grandes empresas, incluindo MasterCard e PayPal (chamados de Operação Retribuição). Uma ação boba e uma estratégia irresponsável, mas que foi rapidamente corrigida.
A última diretiva de Anonymous é um sinal promissor, indicando para mim que Anonymous não é apenas um grupo sem líder de vândalos imprudentes, como a mídia dominante quer que acreditemos.
Certo, muitos dos frequentadores do 4chan.org são apenas hackers adolescentes que querem ser alguém. Essas pessoas a quem chamamos "meninos do script" — o que significa que tudo o que eles sabem fazer é baixar e executar scripts (NT: Pequenas rotinas de configuração para um programa de computador) maliciosos codificados por terceiros. Mas, não se deixe enganar; esses jovens impressionáveis são bem capazes de causar danos sérios aos sistemas de informática, quando recebem a "ajuda" correta. Isto faz deles alvos preferenciais para os agentes federais e outros infiltradores que estão esperando ver os provocadores incitarem atos destrutivos.
Entretanto, existe uma minoria de indivíduos muito espertos que dominam essas comunidades. São eles que emitem as diretivas. Eles vêem o quadro grande, compreendem que esta é uma guerra para conquistar a opinião pública, e sabem que quaisquer outros atos destrutivos cairiam nas mãos de um Sistema que está esperando uma desculpa para intervir na Internet. Exploraremos mais as dinâmicas deste conflito no meu próximo artigo.
Até aqui, discutimos a grande mídia, Assange e o conteúdo dos vazamentos. Apresentei apenas algumas das muitas questões ainda não respondidas que cercam toda esta confusão. Agora é hora de examinarmos mais de perto o WikiLeaks.org...
A Criptografia Como um Instrumento de Justiça Social
Em minhas conversas nas últimas semanas, descobri que muitas pessoas ainda não compreendem realmente como o WikiLeaks funciona. Você ou eu não poderíamos simplesmente contratar espaço de armazenamento de algum provedor da Internet e começar a publicar materiais classificados. Mesmo se alguém tivesse um modo de obter com segurança esses documentos, a possibilidade de publicá-los na Internet seria um problema. Portanto, o que torna esses sujeitos tão espertos? O que eles fizeram de diferente?
O conceito de Criptografia Recusável foi introduzido mais de dez anos atrás por Julian Assange e posteriormente desenvolvido em um sistema de arquivos chamadoRubberhose ("Mangueira de Borracha"). A ideia básica era criar um método de criptografia de arquivos que fosse resistente às ameaças de tortura contra o remetente ou contra o destinatário.
A criptografia de arquivos pode ser levada a extremos. Por exemplo, o sistema de criptografia AES de 256 bits é virtualmente impossível de quebrar usando métodos de força bruta.
Quebrar uma chave simétrica de 256 bits por força bruta requer 2128 mais poder computacional que uma chave de 128 bits. Um dispositivo que pudesse conferir um quintilhão (1018) de chaves AES por segundo, requereria teoricamente cerca de 3×1051 anos para testar todas as combinações possíveis de chaves de 256 bits. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Brute-force_attack
Logicamente, existem outros métodos além da força bruta (que é considerado primitivo, até para um supercomputador), mas a criptografia AES ainda é muito forte. Portanto, o elo mais fraco claramente é o elemento humano. Se quiser saber o que a mensagem secreta diz, você simplesmente localiza a pessoa que a enviou e a tortura até que ela revele a chave. (Esta é a origem do nome "Mangueira de Borracha", caso você ainda não tenha presumido.)
Adicionalmente, os fundadores do WikiLeaks tiveram a visão de colocar seus servidores na Suécia e em vários outros países, aproveitando-se das proteções judiciais oferecidas.
O site afirma que foi "fundado por dissidentes chineses, jornalistas, matemáticos e especialistas em novas tecnologias provenientes dos EUA, de Taiwan, da Europa, da Austrália e da África do Sul. Assange descreve-se como um membro da junta de planejamento do WikiLeaks. Entretanto, de acordo com a
Wired Magazine, Assange certa vez descreveu-se em uma conversa particular como "o coração e a alma desta organização, seu fundador, filósofo, porta-voz, programador original, organizador, financista e tudo o mais". Isto provavelmente está bem perto da verdade.
Veja a página da Wikipedia sobre o movimento
Cypherpunk, com o qual Assange esteve envolvido. Ela é pequena e acredito que uma rápida leitura beneficiará grandemente o leitor e o ajudará a compreender a formação e os ideais políticos de Assange. A página também detalha algumas ideias interessantes sobre a aplicação das tecnologias de criptografia para propósitos políticos e revolucionários.
Em seguida, veja esta
reprodução da página About (Sobre) do WikiLeaks.org, de março de 2008. (Não se preocupe, o vínculo leva até um arquivo da Internet, não aos servidores reais do WikiLeaks.)
A página não indica o autor, a não ser que tenha passado despercebido para mim, e parece ser o resultado de colaboração. Quando você ler, verá que uma certa personalidade começa a emergir. O autor (ou autores) expressa indignação diante das injustiças em todo o mundo e indica um forte sentimento de compaixão humanitária, mas somente com noções vagas com relação às causas desses males sociais. Quantas pessoas você conhece com um perfil político similar? Também acho engraçado que eles digam explicitamente: "O WikiLeaks não é uma fachada para a CIA, para o britânico MI6, para o russo FSB, ou qualquer outra agência." (Que tipo de fachada para um serviço de Inteligência trataria dessa questão?) Finalmente e talvez mais interessante, o autor (ou autores) parece profundamente ciente da possibilidade que o WikiLeaks possa se tornar "um instrumento para propagandistas".
Acredito que ele finalmente se tornou, mas não necessariamente do modo como eles esperavam.
Toda essa retórica era genuína? Eram eles realmente apenas um bando de hackers esquerdistas que queriam usar seus poderes para o bem, porém terminaram enrolados em um jogo de intriga e enganação internacional para o qual estavam terrivelmente despreparados? Não há muito sobre a controvérsia de WikiLeaks que seja verdadeiramente certa. Espero que as coisas continuem a se clarificar à medida que mais informações vierem à luz. Por enquanto, estou principalmente interessado em ver como as pessoas e os governos reagirão diante da controvérsia altamente sensacionalizada. Acredito que os globalistas também estejam.
Portanto, assumindo que o WikiLeaks realmente seja legítimo, que tal este
amedrontador artigo de Cass Sunstein? Por que esta criatura perversa deseja chamar a atenção para alguma coisa que pode prejudicar severamente seu estilo de vida? Para mim, esta é uma indicação que já em 2007, as elites tinham seu radar apontado diretamente para o WikiLeaks.org e o estavam preparando como um instrumento potencial para alavancagem. Deve ser considerado um grande cumprimento ser visado assim pelos globalistas.
Alternativamente, isto pode significar (como alguns sugeriram) que o WikiLeaks foi criado pelas elites desde o início e que tudo é uma operação psicológica, mas repito, pessoalmente não creio nessa hipótese. Posso mudar minha opinião à medida que ficar sabendo de mais fatos.
Independente se as autoridades constituídas estão cientes ou se são responsáveis pelos vazamentos dos telegramas diplomáticos, elas certamente estavam prontas para eles e agora parecem estar reagindo de um modo bem claro e coordenado. Aqui está a operação psicológica; não no próprio WikiLeaks, mas na reação para os vazamentos mais recentes. Lembre-se, essa resposta marca um claro afastamento do modo como o Sistema lidou com os vazamentos anteriores.
Se o WikiLeaks verdadeiramente é legítimo, isso não significa necessariamente que uma operação psicológica não esteja acontecendo. Da mesma forma, o fato de uma operação psicológica estar ocorrendo não significa necessariamente que o WikiLeaks não seja legítimo. O que é uma operação psicológica? Que reação os engenheiros sociais querem produzir com a simultânea demonização e martirização de Julian Assange? É o WikiLeaks.org o "9/11 da Internet"?