Parece ser este o caso da igreja The Potter’s House (“A Casa do Oleiro”), do pastor Chris Hill, em Denver (Colorado, Estados Unidos).
Comparado por muitos com uma mescla dos humoristas Chris Rock e Richard Pryor (o que, convenhamos, não é um bom começo para um pastor que queira ser levado a sério), Chris Hill é conhecido por suas pregações, digamos, exóticas.
Numa delas, registrada no vídeo abaixo, o pastor americano prega sobre Ezequiel 37 – o vale dos ossos secos – e a bateria lhe ajuda com o efeito sonoro do que ele imagina ser o “reajunte” dos ossos, comparando-o com a “reconstrução” das vidas destruídas (no aspecto financeiro, principalmente) dos fiéis, algo nada diferente do que você ouve toda madrugada em canais de TV brasileiros.
Com base no versículo 9 de Ezequiel 37, Chris Hill insiste nos verbos “profetiza” e “dize” para que os ossos secos sejam reconstituídos, até que se lembra especificamente da data de 2 de dezembro de 1983, quando viu pela primeira vez o videoclip de Thriller, de Michael Jackson.
Aí – com os olhos vidrados mirando a câmera – o pastor diz que viu no exército de zumbis de Thriller o espectador que lhe assiste - ali no templo ou na TV –, já que “quando homens mortos dançam, você sabe que é o fôlego de vida de Yaohu Criador; é isso o que eu enxergo quando vejo Thriller”.
Começa, então, o balé dos zumbis característico do antológico clip de Michael Jackson, devidamente editado e sem dispensar os clássicos movimentos pélvicos, é claro, mas com a seguinte letra (reduzida e traduzida):
Porque isso é terror
Noite de terror
E ninguém vai te salvar
Da fera pronta para atacar
Você sabe que é terror
Noite de terror
Você está lutando por sua vida
Numa noite assassina
de terror
Que isso é terror
Noite de terror
Porque eu posso te assustar mais
Do que um fantasma ousaria tentar
(Terror)
(Noite de terror)
Então deixe eu te abraçar forte
E dividir uma [noite]
(assassina, arrepiante)
(Terror aqui agora)
Porque isso é terror
Noite de terror
Garota, eu posso te assustar mais
Do que um fantasma ousaria tentar
(Terror)
(Noite de terror)
Então deixe eu te abraçar forte
E dividir uma [noite, sensação]
(assassina, aterrorizante)
De fato, é aterrorizante que alguém subverta o texto bíblico a ponto de acreditar que essa performance bizarra agrade ao Pai ou seja executada em louvor a Ele.
Por mais que a gente esteja acostumada aos desvarios diuturnos da pastorzada que quer agradar o próprio umbigo, sempre sobra um calafrio novo ao ver alguém deturpando a Palavra para adaptá-la aos seus desejos profanos.
Não é necessário nenhum esforço exegético monumental para entender que os ossos secos da visão profética de Ezequiel 37 não viraram zumbis, mas foram ressuscitados e se tornaram carnes e ossos perfeitamente reajuntados (e plenamente revividos) para Glória Celeste.
Entretanto, a exemplo de muita coisa que acontece em outras igrejas por aí, aqui, ali e acolá, alguém deve ter tido o desejo mórbido de dançar Thriller e o pastor tratou de dar uma acochambrada na Bíblia para permitir o desatino.
Quando isso acontece, até a sua medula já sabe, o “pastor” inventa uma desculpa qualquer dizendo que é para “agradar a Deus” ou “evangelizar” e pronto: os fins justificam os meios. E ambos são falsos.
Tanto, que ao terminar o show de Thriller, Chris Hill diz que “depois disso, se eu não fosse o pastor desta igreja, eu me tornaria membro... nós trouxemos Michael Jackson de volta”.
No fundo, ele está dizendo: “Que mensagem bíblica, que nada, o nosso negócio é entretenimento... e quanto mais fake, melhor!”
Por mais que digam que isso é cristianismo, a farsa na verdade tem outro nome: utilitarismo.
(Adivinhe quem é que está sendo “utilizado”...)
Não tardará muito, infelizmente, para vermos performances de vodu explícito dentro dessas “igrejas”, se é que elas já não estão fazendo isso, vai saber...
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